Educação Inclusiva, hoje
Como
cuidar, integrar, reconhecer, relacionar-se com crianças (e pessoas de um modo geral) com necessidades especiais e que, por
isso, diferenciam-se ou utilizam recursos diferentes dos normalmente conhecidos ou utilizados, sempre foi um problema social
e institucional. Essa tarefa estava, antes, restrita à família ou a alguma pessoa que, por alguma razão, assumisse esse papel,
bem como às instituições públicas (hospitais, asilos, escolas especiais etc.), especialmente dedicadas ao problema. Agora,
espera-se que as escolas fundamentais incluam crianças que apresentem limitações.
Refletir sobre
os fundamentos da educação inclusiva significa analisar o que está na base, apóia, e – mesmo que não tenhamos consciência,
que não tenhamos obrigação de trabalhar em sala de aula –, está presente e de alguma forma regula nosso trabalho. É
fundamental refletir sobre isso, procurar saber e tomar uma posição sobre o que pode estar definindo as características de
nosso trabalho.
Como base de
nossa reflexão queria colocar a premissa de que há, pelo menos, dois modos de organizarmos nossa vida e nosso trabalho na
escola: pela classe ou pelo gênero. Um modo não exclui o outro: coordenam-se, ora como meio, ora como fim. O que define a exclusão é como os articulamos e como
negamos um ou outro. Na Educação Inclusiva, propõe-se uma forma de articulação entre eles diferente daquela à qual estamos
acostumados.
Há, agora, dispositivos
legais favoráveis à inclusão, ou seja, aos relacionamentos pela lógica do gênero e não mais preferencialmente pela lógica
da classe; relacionamentos em um contexto de integração, de presença de uma coisa em relação à outra. Gostaria de analisar
os aspectos positivos da inclusão; mas, também, seu lado perverso e negativo que já pode ser observado. Talvez seja útil começar
analisando os aspectos positivos da classe, da forma de organizar a vida por classes. Gostaria de lembrar, também, os aspectos
negativos que todos nós chegamos a sofrer na própria pele ou, então, na pele de nossos filhos, de nossos pais, de nossos amigos,
ou de quem quer que tenha alguém próximo e excluído na sociedade.
O que é organizar o conhecimento, a vida, pela lógica da classe? Por
que isso é positivo e, também, perverso ou negativo? Lembraria, primeiro, a ironia que pode estar contida na expressão Educação
Inclusiva. Se considerarmos como excluídos, além dos portadores de alguma deficiência, também os pobres, analfabetos, famintos,
os que não têm onde morar, os doentes sem atendimento, então, a maioria de nossa população estaria na categoria dos excluídos.
A minoria “normal” seria de vinte ou trinta por cento. Então, se os excluídos são a maioria, a Educação Inclusiva
é uma proposta tardia de colocar essa maioria junto aos que têm acesso às boas condições de aprendizagem e de ensino na escola
e que podem receber uma educação em sua versão ordinária, comum, ou seja, não-especial ou excepcional.
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